Goiânia, 15 de outubro de 2024 – O número de médicos no Brasil praticamente dobrou nos últimos 14 anos, saltando de 304 mil em 2010 para 576 mil em 2024, de acordo com um levantamento divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Os dados fazem parte do estudo Demografia Médica no Brasil, revelado nesta terça-feira (15), e destacam a evolução da presença de médicos no país. No entanto, as cidades do interior ainda enfrentam a falta de profissionais de saúde.
O estudo mostra que nenhum estado brasileiro registrou queda no número de médicos durante esse período. Contudo, ao analisar a proporção de médicos por mil habitantes, percebe-se um cenário de desigualdade regional, especialmente entre estados mais ricos e as regiões menos desenvolvidas.
Desigualdade regional na distribuição de médicos
Enquanto estados economicamente mais avançados, como Distrito Federal (6,3 médicos por mil habitantes), Rio de Janeiro (4,3) e São Paulo (3,7), apresentam números expressivos, outras regiões enfrentam carência de médicos. Amazonas (1,6 médico por mil habitantes), Amapá (1,5), Pará (1,4) e Maranhão (1,3) estão entre as unidades da federação com menor densidade médica.
A região Sudeste se destaca por concentrar grande parte dos médicos do país, com destaque para São Paulo, que lidera em números absolutos, contando com 166 mil médicos. Já as regiões Norte e Nordeste ainda sofrem com a distribuição desigual, apesar do crescimento significativo no número de médicos nos últimos anos. Por exemplo, o Amazonas registrou um aumento de 67% na presença de médicos desde 2010, mas o déficit ainda é preocupante.
Desafios no interior do Brasil
Os dados também indicam que, enquanto 23% da população brasileira reside nas capitais, 52% dos médicos estão concentrados nesses centros urbanos. No interior, onde vive 77% da população, apenas 48% dos médicos estão disponíveis, o que revela o grande desafio para garantir o acesso à saúde em áreas mais afastadas dos grandes centros.
A capital Vitória (ES), com 18,7 médicos por mil habitantes, lidera o ranking nacional, enquanto o interior do estado apresenta uma média muito menor, com 2,25 médicos por mil habitantes. O mesmo ocorre em Porto Alegre (RS), que tem uma média de 11,85 médicos por mil habitantes, em contraste com 2,26 no interior do estado.
Um dos casos mais críticos é o de Roraima, onde 97% dos médicos estão concentrados na capital Boa Vista, que abriga 65% da população do estado.
A necessidade de políticas públicas
Para o presidente do Conselho Federal de Medicina, José Hiran Gallo, os números mostram a urgência de políticas públicas que promovam a redistribuição de médicos pelo território nacional, com o objetivo de reduzir as desigualdades regionais no acesso à saúde. Ele também destaca a importância de programas voltados à formação de profissionais adequados às necessidades específicas de cada região do país.
“É fundamental o desenvolvimento de uma política robusta de recursos humanos para o Sistema Único de Saúde (SUS), com incentivos atrativos que encorajem os médicos a se fixarem em áreas de difícil provimento, principalmente nas regiões Norte e Nordeste”, afirma Gallo.
Análise crítica
O crescimento expressivo do número de médicos no Brasil é um avanço importante, mas a desigualdade regional permanece um grande desafio. Cidades do interior continuam sofrendo com a falta de profissionais, impactando o acesso à saúde de grande parte da população. A criação de políticas públicas focadas na redistribuição de médicos e na formação de profissionais para atender as necessidades locais deve ser uma prioridade para minimizar esse problema e garantir que todos os brasileiros tenham acesso adequado aos serviços de saúde.